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Marisqueiras de São Cristóvão: histórias de sobrevivência e a necessidade de intervenções

Atualizado: 7 de out. de 2024

A Colônia Miranda, do Município de São Cristóvão, conta com aproximadamente 967 marisqueiras cadastradas, conforme dados de dezembro de 2022. Segundo relatos de muitas delas, as pescadoras fazem uso de óleo diesel na pele e isso ocasionou em problemas de visão com o tempo e manchas na pele. A diretora de Aquicultura e Pesca Elaine Luiza, relata que através de oficinas em um projeto piloto de extensão da UFS com o curso de Engenharia de pesca “elas próprias (as marisqueiras) alegaram que sentem muita dor no mangue quando é maré de mosquito. Elas pediram que a gente procurasse ajuda, daí a demanda de fazer os repelentes naturais.” Também conta que entende a dor que elas sentem com as picadas dos mosquitos: “eu vivenciei esse momento de dor junto com elas no mangue”, e por conta disso, ela levou essa demanda para os órgãos competentes como a prefeitura de São Cristóvão e a Universidade Federal de Sergipe se juntou na missão, a qual Elaine também agradece pela parceria feita e ressalva “esse projeto é de extrema importância para essas mulheres”.

Lidiane, umas das marisqueiras, ao ser entrevistada sobre a oficina de capacitação para que as pescadoras aprendessem a produzir o próprio repelente natural, compartilhou que achou a oficina muito boa e importante para a saúde delas. Em suas palavras, “ muita gente fica feliz de saber e viver uma experiência dessa para melhorar a nossa situação, porque é muito precária.” Ainda comentou sobre o uso de óleo diesel na pele, “a gente passa óleo, creme de pele, repelentes, mas, muitas vezes a gente não tem condições de comprar repelentes e misturamos querosene com creme para passar na pele e amenizar o cheiro pra ver se os mosquitos não conseguem morder e mesmo assim não é eficaz.”

Após terminar a experiência da oficina que foi realizada pelos alunos de farmácia da UFS, Lidiane ficou satisfeita com o aprendizado e comentou o seguinte “aprendendo com eles o que estão ensinando na prática, é importante porque com isso vamos comprar o material para poder fazer e se proteger e, com isso, poder dar para outras pessoas que também trabalham na maré e que não puderam vir e aprender.”

Na última terça-feira de Outubro (31/10/23), foi realizada uma Roda de conversa com as marisqueiras e representantes da OAB, Secretaria Municipal de Saúde, do Ministério Público e a desembargadora do TRT20, Dra. Vilma Amorim, que mencionou estar presente para conhecer a realidade e dar visibilidade a situação para poder promover o trabalho seguro. A roda teve como objetivo colher feedbacks a respeito dos repelentes que aprenderam a fazer na oficina e que as pescadoras compartilhassem suas histórias, reais condições trabalhistas e principais demandas que estão em falta para garantir o mínimo de qualidade de vida das mesmas.

Roda de conversa com as marisqueiras e representantes do setor público, realizada em 31 de Out./ 2023.

Rodrigo da Silva, designer da Agitte, entrevistou a marisqueira Letícia Santos sobre a eficácia dos repelentes confeccionados na oficina. Letícia alega que usou o repelente para ir na maré, no entanto, não ajudou muito a repelir os mosquitos. Além disso, repassou o conhecimento para outras marisqueiras e ao replicarem a receita e usarem, também não gostaram do produto por "não ter servido", segundo elas. A professora Dra. Rogéria de Souza Nunes, explicou que isso é uma questão cultural, pois, o repelente é tão eficaz quanto o querosene e, talvez esse seja até menos, mas, por costume, elas não conseguiram sentir a diferença.

Durante a roda de conversa, as marisqueiras foram contando um pouco do dia a dia delas e das necessidades que passavam. A Fabiana, disse o seguinte: “Seria bom mesmo alguém filmando a nossa realidade [...], o dia a dia nosso com chuva ou sem chuva.” Ela citou que é necessário mostrar as dificuldades do café da manhã até a confecção de “sapatos” com calça jeans para conseguir trabalhar.

Letícia, “Gostaria de pedir a vocês que olhassem mais por nós [...] porque o nosso trabalho é muito sofrido.” Ela solicita equipamentos de segurança como luvas, calças, botas e chapéus para se protegerem de cortes pelo corpo causados pelos mariscos. Também pede o protetor solar para proteger contra queimaduras.

Ana Paula, “Comecei a trabalhar na maré desde os 15 anos e hoje vou fazer 45 anos que 'tô' trabalhando lá, a dificuldade é muita porque hoje em dia a gente tira só 1kg ou 1,5kg sendo que antigamente era mais.” Além de frisar o fato da quantidade de mariscos ser menor atualmente para coletar e ter uma boa renda, menciona que quando chove, o chão fica muito escorregadio, fica arriscado cair enquanto carregam os mariscos.

Outras marisqueiras se queixam da falta de um melhor planejamento do sistema de saúde, principalmente porque existem alguns remédios que elas retiram uma vez e depois precisam esperar alguns meses para conseguir outra unidade. Mencionam precisarem lidar com problemas como hemorragias, dores de coluna, intoxicação, coceiras e manchas na pele (Melasma), além de dores de cabeça prolongadas, por muitas vezes não terem condições de acesso a remédios ou itens básicos de proteção.

Na sequência, após ouvir alguns relatos, a professora Rogéria reflete sobre o trabalho dessas mulheres ser de uma cultura familiar de subsistência, levando em consideração que uma das marisqueiras comentou que seus filhos trabalham desde jovens também para conseguir suprir as necessidades. Menciona também a existência da cartilha do Ministério da Saúde que visa garantir diversos direitos aos pescadores de mariscos, mas que muitos não sabem da existência e, por isso, é necessário uma série de intervenções através de uma ação conjunta para que haja uma melhoria na qualidade de vida dessas pessoas. Para isso, professora Rogéria, afirma que é importante entender a vida delas e procurar fazer pequenas mudanças para ter um resultado duradouro, “essa intervenção precisa de acompanhamento e engajamento para que perdure, é um processo que precisa de diálogo contínuo.” Lembra também que não promete uma solução imediata e fácil, principalmente diante de uma situação complexa, pede paciência e confiança para que as coisas aconteçam.

Elaine (secretária de Aquicultura e Pesca), comenta que foi uma vitória que foi possível através da união de forças e parceria entre ela e as marisqueiras. A secretária, em acordo com o governo, conseguiu colocar as marisqueiras diante de um representante para que elas contassem suas dificuldades, como resultado, elas conseguiram que a partir de janeiro de 2024 não será mais suspenso o auxílio do governo mesmo que elas recebam o recurso defeso também. Agradeceu a presença dos convidados e a disponibilidade em ajudar nas demais demandas.

Para encerrar, Maria Santos (gestora de Empreendedorismo Inovador da Agitte e coordenadora do programa Socialize-se), comenta sobre ser o último dia do programa Socialize-se e que o edital do próximo já está sendo trabalhado e pensado para que tenha uma duração de 9 meses. Emocionada, ela agradeceu as parcerias presentes e informou que está focada em continuar trazendo mais parceiros com foco no ODS 17 para levar qualidade de vida para a comunidade juntamente com a UFS. Outros representantes presentes também fizeram seus discursos finais e a roda de conversa foi encerrada, mas, com a missão de que ações futuras de intervenção ocorram em breve.



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